A vida parece mesmo um novelo: você vai puxando uma linha, vem outra, vêm outras... O projeto social Curta Terapia – O cinema nos hospitais, idealizado pela atriz, produtora e estudante de Psicologia Marcela Siqueira, surgiu assim, despretensiosamente, com um fato puxando outro, e agora começa a seguir seu caminho, que podem levar a outros novelos, outras histórias. O Curta Terapia foi criado para levar a sétima arte aos centros oncológicos do Rio de Janeiro. O primeiro passo será dado no próximo dia 18, às 14hrs, no Hospital Estadual da Criança, em Vila Valqueire, Rio de Janeiro, onde serão exibidos os filmes infantis “Poropopó”, “Na lata” e “Anel da discórdia” (animação da Turma da Mônica), todos curtas-metragens. Realizado pela Tom & Luz Produções, o Curta Terapia é um projeto social, contemplado no Edital do Produtor Cultural, Lei Municipal de Incentivo à Cultura 5.553/13, Lei do ISS (RJ), WEC698/01/2023. Até o fim do ano, o Curta Terapia levará sessões de cinema, apresentando curtas-metragens a pacientes internados em centros oncológicos do Rio de Janeiro, com apoio da Rede D’Or e da empresa de vigilância e segurança CVA.
Os filmes da mostra são selecionados por meio de uma curadoria especializada da indústria audiovisual brasileira. Serão exibidos filmes de classificação livre e com gêneros variados, com sessões adultas e infantis, com histórias que inspiram e levam reflexão, diversão e leveza, conceitos que resumem bem esse projeto, cuja proposta é humanizar o tão duro tratamento oncológico.
"Selecionamos cuidadosamente cada filme, pensando em criar um momento único para nossos espectadores. Optamos por histórias leves e divertidas, com uma excelente qualidade técnica, que inspiram sorrisos, reflexões e emoções positivas. Nossa intenção é transformar cada sessão em uma experiência lúdica e especial, oferecendo um respiro de encantamento e alegria num momento de lazer no dia a dia do hospital”, explica a idealizadora Marcela Siqueira.
Na faculdade de Psicologia, Marcela fez uma pesquisa sobre “O impacto da humanização via arte e cultura na saúde de pacientes oncológicos internados, segundo a perspectiva psicológica” e constatou o poder da arte no tratamento clínico. Isso contribuiu para o imenso novelo, que poderia até ser chamado de novela, que levou à criação do Curta Terapia.
Em 2016, Marcela viu um anúncio sobre o Festival de Cinema Celucine, criado por Marco Altberg, que anunciava um prêmio especial para curtas-metragens e foi dormir pensando que história gostaria de contar. No dia seguinte, ela acordou com o argumento do curta "Impermanência" na cabeça, escreveu o roteiro, levantou o orçamento, mas, quando percebeu que a quantia era muito alta, resolveu desistir de filmar.
“No entanto, uma visita inesperada mudou tudo. Recebi um senhor em minha porta, entregando equipamentos que eu havia comprado antes de desistir do projeto. Convidei-o para entrar e tomar um café. Durante duas horas, conversamos, e ele compartilhou histórias sobre sua família, incluindo um relato íntimo sobre a vivência do câncer entre seus filhos. Naquele momento, percebi que precisava retomar o roteiro e contar aquela história”, revela Marcela, que, motivada, reuniu amigos, empresas e uma equipe maravilhosa disposta a enfrentar o desafio.
Valeu a pena! O curta “Impermanência” foi premiado no Festival Celucine em 2016 e no Arraial Cine Fest em 2018. “Naquele período, eu estava começando como produtora e, embora tenha cometido vários erros, não deixei de acreditar no impacto social que o filme poderia ter na vida das pessoas”, conta a idealizadora.
E assim o novelo foi se desenrolando na direção de expandir o curta-metragem para o projeto Curta Terapia, que passou por um primeiro teste quando “Impermanência” foi exibido no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, contando com a visita de alguns artistas e profissionais do cinema. “Refletimos sobre a importância de levar esse projeto a hospitais e centros oncológicos do Rio de Janeiro, apresentando, curtas premiados, que são pouco acessados pelo público em geral, muitas vezes restritos a festivais e que merecem uma audiência maior”, explica Marcela, que acompanhou a exibição com uma hora de interação com pacientes, familiares e equipe hospitalar, proporcionando não só entretenimento e troca de experiências, como também apoio ao Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), criado em 2003 pelo Ministério da Saúde. “Esse programa é fundamental para transformar a relação entre pacientes e profissionais de saúde, sempre buscando o melhor para aqueles em situação de vulnerabilidade. Acreditamos que a cultura é uma poderosa aliada nesse processo. Oito anos se passaram, e aqui estamos nós! De fato, essa história precisava ser contada para que pudéssemos criar novas possibilidades e projetos com propósito”, empolga-se a atriz e produtora.